Seminário de Pesquisa em Redução de Desastre surpreende pela qualidade dos projetos de pesquisa apresentados em Curitiba.

Redução do Risco de Desastres
Seminário de Pesquisa em Redução de Desastre surpreende pela qualidade dos projetos de pesquisa apresentados em Curitiba.

Encerrado na sexta-feira (09/11), o I Seminário Paranaense de Pesquisa em Redução de Desastre (Serede), evento que apresentou durante três dias os resultados de projetos de pesquisa desenvolvidos por instituições que integram a Rede Estadual de Pesquisa, Ensino, Extensão e Inovação Tecnológica (Redesastre).   

Os projetos resultam de uma parceria com a Sanepar, que disponibilizou um recurso de R$ 1,5 milhão para financiar as pesquisas que envolvem diferentes áreas temáticas, desde a psicologia do desastre até inovações tecnológicas para o monitoramento de riscos. Pelo convênio, foram desenvolvidos 16 projetos por aproximadamente 60 bolsistas, entre estudantes da graduação, mestrado e doutorado. “São recursos investidos em conhecimento para tornar o Paraná um estado mais resiliente”, destaca o diretor do CEPED/PR, Major Dr. Eduardo Gomes Pinheiro.

O Serede foi uma iniciativa do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED) do Paraná, órgão da Casa Militar e vinculado à Universidade Estadual do Paraná (Unespar), e conta com o apoio da Capes (fundação do Ministério da Educação), da PUC-PR e da Sanepar.

O Prof. Dr. do Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana/Curso de Engenharia Ambiental –PUCPR, Edilberto Nunes de Moura, apresentou no último dia do seminário os resultados do projeto ‘Adaptação do Hazus-MH do módulo enchentes para a criação de mapas de vulnerabilidade e de riscos no município de Curitiba’. Hazus é uma metodologia padronizada desenvolvida pela Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA), dos Estados Unidos, com o objetivo de proporcionar às comunidades os meios para identificar e reduzir riscos naturais.

A área de estudos da pesquisa desenvolvida pelo professor e por seis bolsistas foi a Bacia Hidrográfica do Rio Belém, que abriga aproximadamente 50% da população da capital paranaense. “Considera-se que o HAZUS-MH adaptado para as condições brasileiras tem significativo potencial para a melhoria nas estimativas de perdas promovidas por eventos de inundação com mais rapidez e menos subjetividade na obtenção dos resultados”, apresentou Moura durante o Serede.

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) trouxe para o evento um projeto que cria um sistema de alerta de cheias no Rio Marrecas baseado na “mancha de inundação”, através da criação de um mapa altimétrico das cotas de inundação, por meio do monitoramento do volume de chuvas e do nível dos principais afluentes do Marrecas. O material foi apresentado pelo Prof. Dr. Elvis Rabuske Hendges.

O estudo levanta quais afluentes mais colaboram com as cheias, e um mapa aponta três níveis de alerta, dando condições para as ações da Defesa Civil quando houver necessidade.

CIDADES RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS - Acadêmicos e pesquisadores que integram o CEPED/Unioeste desenvolveram também o projeto ‘Construindo cidades sustentáveis e resilientes: vulnerabilidade dos mananciais às margens da BR – 277, apresentado no evento pela Prof.ª Drª Irene Carniatto de Oliveira, do campus de Cascavel. A proposta do trabalho é a proteção e redução de riscos ambientais, por meio de levantamento e análises de dados sobre o tráfego e os acidentes com produtos perigosos no eixo compreendido entre os municípios de Guaraniaçu e Foz do Iguaçu.

O projeto permitiu o desenvolvimento de um estudo sobre os pontos de vulnerabilidade dos mananciais que abastecem esses municípios, e a criação de ferramentas para disponibilizar um banco de dados para todo o estado do Paraná.

Os resultados do projeto que aborda as interações de riscos ambientais com a saúde coletiva, relacionadas

à distribuição dos fluoretos nas águas de abastecimento público da regional de saúde de Londrina (PR), foram apresentados no seminário pelo doutorando em Geografia, Diego Vila Guimarães, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O coordenador do projeto é o Prof. Dr. José Paulo Peccinini Pinese.

CRIANÇAS E INUNDAÇÃO – A Prof.ª Drª Eveline Favero, também da Unioeste de Cascavel, apresentou o projeto do qual é coordenadora, ‘Mãe, posso brincar lá fora?”, uma análise da percepção infantil sobre os riscos relacionados às enchentes e inundações. Ela coordena a pesquisa desenvolvida por quatro bolsistas da instituição. Entre as conclusões da pesquisa, há o apontamento de que não existe diferença na percepção de risco entre meninos e meninas, que as crianças que vivem em áreas inundáveis têm suas atividades limitadas pelos desastres, e que políticas públicas em redução de riscos e de desastres devem ter como pauta as necessidades de desenvolvimento em cada faixa etária.

O projeto analisou 127 crianças com idades entre 6 e 11 anos, da Escola Luiz Vianey Pereira, de Cascavel e 173 crianças da Escola Madre Boaventura, de Francisco Beltrão.

O SIDESOL Paraná - Sistema de Monitoramento de deslizamento de solo paranaense, é outro projeto aprovado pela Comissão Permanente de Seleção de Projetos de Ciência, Tecnologia e Inovação do CEPED/PR, em 2016, e que recebeu apoio financeiro da Sanepar. No Serede, a demonstração do equipamento desenvolvido para monitorar os riscos de deslizamentos de solo foi feita pelo presidente do Instituto de Pesquisa e Telecomunicações (IPET), o engenheiro Jefferson Schreider.

O sistema também pode ser utilizado tanto em casos de avalanches na neve, quanto em monitoramento de barragens de usinas ou em áreas onde há risco de deslizamento de rochas, inclusive em rodovias. “A aplicação dele é bem ampla”, explica Schreider. “Queríamos criar uma ferramenta que, além de monitorar áreas de risco, alertasse com antecedência a Defesa Civil para que mortes e prejuízos fossem evitados”.

MONITORAMENTO RIOS – O projeto de pesquisa ‘Desenvolvimento de um sistema de monitoramento do nível de águas de rios’, coordenado e apresentado pelo Prof. Dr. Ricardo Canute Kamikawachi, da UTFPR, propõe o sistema de monitoramento baseado em redes de Bragg e no princípio da força hidrostática. A justificativa para o trabalho é que o sistema de monitoramento do nível dos rios com baixo tempo de resposta pode contribuir significativamente ajudando na gestão e prevenção dos riscos que as enchentes oferecem.

A Unioeste trouxe também uma análise da produção científica sobre riscos de desastres no Brasil, em periódicos nacionais e internacionais, a partir de pesquisas nas bases de dados. O coordenador do projeto, o Prof. Dr. Denis Dall’Asta, apresentou os números do levantamento. Em todo o país, foram localizados 1042 artigos.

As instituições envolvidas na pesquisa desse tema somam 104, as quais estão localizadas no Brasil e em outros países. Diversas delas formaram relações para produzir estudos científicos.

Em outro espaço da PUC-PR, os resumos de 40 pesquisas inscritas no evento foram expostos em pôsteres para serem avaliados por uma comissão formada por pesquisadores e professores. “É uma oportunidade que estudantes e bolsistas têm de divulgar os resultados dos trabalhos que já executaram ou que estão em andamento. Sem contar que vão ser publicados nos anais do evento, e ficarão disponíveis para consultas on line”, explica a diretora acadêmica do CEPED/PR, a Prof.ª Drª Danyelle Stringari.

ENCERRAMENTO – O I Seminário Paranaense de Pesquisa em Redução de Desastre (Serede), encerrou com uma mesa redonda formada pelo representante do setor administrativo da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil, Misael Márcio Ferreira Borges, pelo geólogo da CEPDEC, Rogério da Silva Felipe, pelo meteorologista do Simepar, Reinaldo Olmar Kneib, pela analista operacional em geociências do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), pela diretora acadêmica do CEPED/PR, Danyelle Stringari, e pelo diretor do CEPED/PR, Major Dr. Eduardo Pinheiro.

Pinheiro abriu a discussão com uma questão sobre a importância do conhecimento na redução dos desastres. “Quem conhece a área de redução de risco de desastre, de Proteção e Defesa Civil, de resistência e de gestão, não consegue imaginar um sistema que funcione alheio ao conhecimento sobre os riscos. Não faria sentido algum”.

Segundo ele, o risco é resultado dos estudos das ameaças, do conhecimento sobre as vulnerabilidades relacionadas a essas ameaças e “dessa intercessão, vamos encontrar o que nos interessa, quebrando o paradigma que tinha como foco o desastre, mas ao voltar a atenção para o risco, as variáveis que o compõem e o alinhamento que nós queremos evitar para que o desastre se deflagre, para que esse processo se manifeste como perdas e danos acabe acontecendo”.

O diretor do CEPED/PR ponderou ainda que, todo o trabalho que for feito, “todo o estímulo que houver para provocar alunos, professores, pesquisadores, e aqueles que estão envolvidos hoje na produção do conhecimento e na disseminação desse conhecimento, só faz sentido se tivermos um alinhamento de atores nesse processo”.

O Major tornou pública a moção de apoio ao CEPED/PR, por conseguinte, à Redesastre, elaborada por professores e pesquisadores que participaram do Serede. No documento, eles destacam que “são iniciativas únicas no Brasil para promover a aproximação e integração entre a academia e a gestão pública de forma a dedicar-se à produção de conhecimento científico útil para a tomada de decisão pelos gestores públicos a partir das necessidades da prática, enfatizando os principais aspectos norteadores para a continuidade dos programas de pesquisa em rede de forma integrada com os anseios da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Paraná”.

A diretora acadêmica do CEPED/PR, a Profª Drª Danyelle Stringari, expressou satisfação com a realização do seminário e destacou a qualidade dos projetos apresentados.

 

Por Sara Carvalho, Assessoria de Comunicação CEPED/PR